sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.


Clarice Lispector

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Morte de Eloá: Mais um acaso de violência contra a mulher

E enfim é enterrada a jovem Eloá, 15, assassinada pelo ex-namorado. Mantida refém em sua própria casa, Eloá foi vítima do chamado "crime passional", que é quando a vítima é morta por 'amor' ou 'ciúme'. O que nesses casos as pessoas chamam de 'amor', eu chamo de sentimento de posse.

Apesar de algumas pessoas acharem que isso é paranóia de feminista, o caso de Eloá e tantos outros que acontecem, refletem sim o machismo e o patriarcado. Várias(os) amigas(os) com quem conversei disseram que isso não tem nada a ver, que mulher também dá xilique quando não quer teminar namoro. Mas isso é uma forma muito superficial de ver as coisas. Para mim, é a violência contra a mulher na sua face mais primitiva.

Estou fazendo uma seleção de matérias para a ong em que faço estágio. Todos os dias vejo os jornais 'Diário do Nordeste' e 'O Povo' (o site está fora do ar, por isso sem link), e toda semana (quase todos os dias, para dizer a verdade) sai uma notícia de uma mulher assassinada ou agredida por um homem com quem manteve relacionamento. Ou então, é caso de ciúme ou de rejeição. A grande maioria das notícias são publicadas no cadernos sobre o interior do estado do Ceará.

Isso não pode ser coincidência. Basta parar e refletir sobre a cultura machista e no teor violento das relações de gênero. O menino é criado para não ser 'besta', não levar desaforo para casa, se fugir de uma briga na escola, é logo taxado de 'bicha'. Nos programas de humor, o homem traído é sempre ridicularizado com a velha história da honra ferida. Já a mulher que trai é a vagabunda, a fatal. A que merece apanhar.

Homens que agridem mulheres(verbalmente ou fisicamente) por ciúme são o tipo que acreditam que elas "não têm o direito de terminar", que "se não for comigo não é com mais ninguém", etc. É o tipo de homem que vê a mulher como propriedade sua, como rebanho. E a sociedade legitima isso quando repassa esses valores para seus filhos.

Eloá foi a única?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Colunista da Trip pede desculpas por estuprar empregada

Após a publicação de "Carta aberta para Luisa", o site da revista recebeu centenas de comentários furiosos de mulheres que se sentiram violentadas moralmente pelo texto. E com razão.



Em tom "bem-humorado", o colunista Henrique Goldman, 46, radicado em Londres, publicou na revista Trip um texto em que conta como, aos 14 anos, transou com sua empregada contra a vontade dela. O texto foi publicado na na edição 170, de 29 de setembro.

A palavra estupro não é utilizada em nenhum momento, mas trechos como "Você não queria, mas por força da nossa insistência acabou cedendo. Sinto ódio do Brasil quando penso que você provavelmente tivesse medo de perder o emprego" mostram que tratou-se de violência sexual. Porque estupro não é apenas quando a vítima é amordaçada e espancada.

Henrique Godman teria "insistido" para que a empregada inocente, pobre, tímida e de seios fartos transasse com ele e um amigo de 16 anos. Aliás, esse teria sido convidado por ser mais forte e "corajoso" e foi quem primeiro "deu o bote".

Ao final da carta, o colunista pede desculpas pelo crime cometido há 32 anos atrás, banalizando o ocorrido "Espero que você esteja bem. Espero que para você a memória daquela tarde não seja tão ruim e que você hoje possa rir do que aconteceu". Até consigo imaginar a pobre Luisa rindo...

Após o recebimento de centenas de comentários indignados, a revista publicou junto ao texto uma nota alegando que trata-se de um texto ficcional e que a publicação "considera inaceitável qualquer forma de assédio ou violência sexual".

O próprio Henrique também coloca uma nota em que afirma que nunca estuprou ninguém e que seu único crime foi ter escrito um texto sem deixar claro que era ficcional.

Uma petição on-line exige retratação pública da revista Trip e do colunista Henrique Goldman. O documento está sendo organizado por diversos movimentos sociais (principalmente feministas) e será entregue à revista na sexta-feira, 15 de outubro.

A revista Trip é uma publicação voltada para o público masculino e hetero, e costuma publicar mensalmente fotos de mulheres nuas ou semi-nuas (inclusive funcionárias da própria revista).

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Tão pessoal...



Posso ainda estar longe de ser livre
Não ser tão segura de mim.
Ainda busco respostas em outras pessoas – setas para meus caminhos.

E a angústia que acompanha
A dúvida e o medo dos julgamentos
É como uma droga que perturba
Injeta adrenalina
Acelera a pulsação
Pinica, faz sangrar.

Mas é essa fada demoníaca
Que me mostra
Que ser livre é um processo.

E por estar nesse processo, sorrio.
Olho para trás e percebo
Que saí do marasmo.
Abandonei a paz cega.
Me volto para a frente e caminho
Forte e altiva.
Feliz e furiosa.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sem título, sem rima

Ô coisa difícil é pensar!
É um tal de reclamar,
dizer que tudo tá errado,
Ver problema em todo canto.

Isso é paranóia!
Coisa de gente frustrada,
de gente do contra,
de quem não tem o que fazer!

E quando a gente pensa,
a gente se cansa.
A cabeça dói,
não dá prá dormir.

Ô vontade de deixar prá depois,
deixar tudo como está.
Deixar prá lá.

É mais fácil fingir que não viu - e era prá ser difícil?
Porque é tão difícil pensar - mas era prá ser fácil?

E o pior
é que eu amo essa confusão!
Quero me afogar nela!

E que venha a insônia,
a dor de cabeça,
eu quero mais é beber das minhas dúvidas.

Porque eu gosto dessa coceira.
Eu gosto é da ressaca!

E não me importa que as respostas estejam longe
Porque eu não vim prá dizer "sim".
Eu vim prá dizer: "por que?"